O presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa – Interfarma, Antônio Britto, afirmou que a falta do que ele chamou de “ciência nacional” impede o desenvolvimento da indústria nacional de fármacos. Segundo ele, há um problema concreto, já que a universidade é avessa à pesquisa aplicada, focando-se exclusivamente na pesquisa de base.
“A universidade não tem coragem de atravessar a rua e se associar à industria”, criticou. Por outro lado, afirma o executivo, a indústria “detesta risco”. Para ele, se existe um mercado consumidor forte e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a fabricação de medicamentos, não há porque investir, e se arriscar, em inovação no segmento de fármacos, a matéria-prima, os princÃpios ativos para a fabricação de medicamentos.
“Com isso, o Brasil segue pagando o caro e vendendo o barato”, disse se referindo à compra de novos medicamentos desenvolvidos pela indústria estrangeira e aos já considerados commodities fabricados internamente. “O Brasil não pode só produzir pappers, tem que produzir patentes para poder tirar do SUS a carga de pagar caro para comprar o novo.”
O chefe para o departamento de quÃmicos do BNDES, Pedro Lins Palmeira Filho, também presente no debate, prefere enxergar os avanços obtidos pelo setor, especialmente na última década, e acredita que inovação é um conceito evolutivo. “Nenhum paÃs acorda inovando. É um processo. O BNDES faz o balcão, emprestando dinheiro, mas também temos o papel de pensar e induzir o desenvolvimento.”
Palmeira Filho concorda, no entanto, que a universidade seja o elo mais fraco neste processo e defende uma aproximação pragmática entre pesquisadores e indústria. Este avanço é fundamental para que a indústria brasileira possa suprir de forma eficiente a demanda crescente por medicamentos para doenças crônicas, por exemplo, que aumentam com o envelhecimento da população.
Quando se fala em inovação, Palmeira Filhos lembra que dos dez medicamentos mais vendidos no mundo, sete são biotecnológicos. Desenvolver a indústria nacional neste segmento é um dos objetivos. “Para ampliar o acesso é necessário uma indústria brasileira forte e essa é nossa esperança no médio e longo prazo num sistema universal”, afirmou.
Ogarà Pacheco, presidente do laboratório Cristália, um dos poucos com 100% de capital nacional e que investe em inovação e desenvolvimento de novos fármacos, é enfático em dizer que quem investir apenas em commodities “vai dançar”. Segundo ele, o Brasil precisa superar o déficit de desenvolvimento em relação aos demais paÃses, já que patentes quebradas agora começaram a ser desenvolvidas há pelo menos 30 anos.
Dentro deste contexto, Britto lembra que é importante comemorar os avanços do Brasil, mas não se pode esquecer que o PaÃs não compete com si mesmo, mas sim num mercado global. E um dos fatores que fazem o PaÃs caminhar mais devagar que a concorrência é a burocracia.
Quando se fala especificamente em registro de patentes de fármacos e medicamentos o cenário é desanimador. Segundo Britto, o Instituto Nacional Propriedade Industrial (INPI) conta atualmente com 174 examinadores para 192 mil processos, o que gera uma demora de quase 15 anos. Nos Estados Unidos, uma patente é registrada em cerca de três anos.
Fonte: Carta Capital Online