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Depois dos duráveis crise afeta até produção de bens básicos

Fonte: DCI – São Paulo

Piora do cenário. Apesar de os estoques nas fábricas já estarem controlados, o avanço do desemprego e a queda da renda podem prejudicar vendas no varejo, reduzindo encomendas

São Paulo – A crise econômica, que já impactou fortemente a indústria de bens duráveis, agora começa a chegar também aos semiduráveis e não duráveis. O aumento do desemprego no Brasil nos próximos meses pode afetar ainda mais a demanda e os estoques das fábricas.

Depois de ajustar os estoques ao longo de 2015, a indústria pode enfrentar neste ano uma queda nas encomendas de itens como vestuário, cosméticos e até medicamentos, diante de um varejo cada vez mais pressionado pela queda no emprego e na renda dos brasileiros.

“Na medida em que o desemprego aumenta – e sabemos que essa taxa vai crescer até o meio do ano – o consumo de bens semi e não duráveis vai cair mais que no último ano, com destaque para os grupos de menor renda” afirma o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Nelson Marconi.

Segundo ele, a queda na produção de bens duráveis (automóveis e eletrodomésticos), principal destaque negativo de 2015, dará espaço ao recuo mais acentuado na atividade de setores ligados a bens não duráveis (cosméticos e medicamentos).

Para o diretor de políticas e estratégias da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, um dos principais problemas do setor neste ano pode ser o aumento do custo médio de produção, reflexo da atividade em baixa.

“É normal ajustar a produção para reduzir estoques, o que a indústria fez em 2015. O problema começa quando as empresas passam a ter uma capacidade instalada ociosa muito acima do mercado. Isso ocorre quando não tem mais demanda”, explica Fernandes.

De acordo com a última sondagem da CNI, a utilização da capacidade instalada (UCI) pela indústria caiu 4 pontos percentuais na passagem de novembro para dezembro do ano passado, chegando a 62%.

Disseminação

A situação da indústria deve continuar difícil até o meio do ano, acredita o coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (Fia), Claudio Felisoni.

“Os levantamentos da produção industrial já mostram um menor ritmo nas categorias de bens de consumo não duráveis. Isso mostra claramente a disseminação da crise econômica”, avalia ele.

Felisoni cita a retração no setor de higiene e beleza como um exemplo da piora na demanda interna. As vendas desse setor registraram queda real de 6,7% no acumulado de janeiro a setembro de 2015 comparado a um ano antes, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A queda foi a primeira registrada pelo setor em 23 anos.

Embora os estoques nas indústrias de higiene e perfumaria (49,3 pontos) tenham ficado abaixo da linha dos 50 pontos em dezembro, sinalizando equilíbrio. A UCI do setor caiu para 41,7% em dezembro passado, abaixo dos 46,4% vistos um ano antes, segundo a CNI.

Plano B

Com o esgotamento das alternativas para ajustar a produção, agora as indústrias brasileiras tentam encontrar novas estratégias para sobreviver. A fabricante de alimentos Sapori percebeu que o varejo reduziu o ritmo de compras neste mês.

“Nossa aposta para 2016 é um aumento da procura por linhas de maior valor agregado e da produção terceirizada para outras marcas”, revela a diretora da empresa, Cláudia Rappa.

A executiva explica que, por ser uma empresa de médio porte, a Sapori não consegue competir com os descontos que as grandes fabricantes oferecem aos varejistas. A saída então é investir em áreas que a concorrência não está interessada e em categorias nas quais a briga por preço não é tão acirrada.

Depois de faturar cerca de R$ 1,6 milhão no ano passado, a fabricante espera alta de pelo menos 15% neste valor neste ano. A expansão em volume deve seguir a mesma proporção.

A Hikari também está de olho nos produtos de maior valor agregado para sustentar o crescimento, mas prevê desaceleração da demanda nos próximos meses. Segundo o diretor comercial da fabricante de alimentos, Luiz Kurita, a maior parte do portfólio da empresa é composto por produtos de baixo valor agregado, muito expostos a oscilações nos custos logísticos, que podem encarecer o preço final, afetando a competitividade no setor.

Em ano de renda familiar ainda menor, o setor de vestuário também procura alternativas para mitigar as perdas registradas nos últimos 12 meses.

“O setor como um todo tinha uma expectativa grande de conseguir reduzir os estoques no segundo semestre de 2015, ajudado pelo Dia das Crianças e o Natal, mas o varejo não vendeu o esperado e os estoques continuaram acima do desejado”, conta o diretor comercial da Fakini, Francis Fachini.

Segundo ele, a alternativa da empresa para os próximos meses é produzir algumas linhas de menor custo e voltar a negociar com as redes de fast fashion, que têm buscado substituir as importações de vestuário.

“Investimos bastante na melhora da capacidade produtiva nos últimos cinco anos, por isso temos condições melhores de competitividade, mas somos exceção no setor”, diz Fachini.

Na visão do executivo, a indústria não vai conseguir recuperar a competitividade perdida nos últimos anos a tempo de registrar ganhos com substituição de importados em 2016.

A opinião dele é compartilhada com o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, que não vê estrutura para atender a toda a demanda por substituição de importados.

Jéssica Kruckenfellner

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