Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Em recente evento realizado na cidade de Ponta Grossa, interior do Paraná, o Ministro da Saúde Ricardo Barros assegurou que sua pasta vai priorizar os médicos brasileiros na renovação dos contratos do Programa Mais Médicos.
Em seguida, soltou esta pérola: “Se tiver algum ponto em que médicos brasileiros não queiram ir, teremos lá um médico cubano. É melhor ter um médico cubano do que um farmacêutico ou uma benzedeira”.
Trata-se de uma frase que retrata a mais completa incompatibilidade do ministro com o cargo para o qual foi nomeado pelo presidente golpista. Demonstra que ele desconhece que saúde exige abordagem multidisciplinar e não sabe como funciona o nosso sistema de saúde.
Para piorar, refere-se pejorativamente aos médicos cubanos, aos farmacêuticos e a “benzedeiras”, revelando ignorância, preconceito, desrespeito e desconsideração.
Em seu despreparo, o ministro Ricardo Ramos confunde os profissionais que trabalham numa farmácia.
Nem todo mundo atrás dos balcões é farmacêutico, profissão que exige curso universitário com duração média de cinco anos e registro nos conselhos regionais de Farmácia.
Também é lamentável que um ministro da Saúde desconheça como funciona o Sistema de Saúde brasileiro e ignore que não exista hierarquia entre suas diferentes classes profissionais. Pior ainda, é um completo absurdo que o ministro da Saúde não conheça conceitos básicos e não entenda o papel e a importância do farmacêutico para o sistema de saúde do país.
Por outro lado, ao incluir as benzedeiras, mostra o seu menosprezo com a nossa cultura popular. Mexe ainda com a fé alheia.
Muitos que benzem, homens e mulheres, são portadores de uma cultura centenária, atávica, assim como os indígenas. São verdadeiras enciclopédias de plantas medicinais. Por meio da cultura oral, eles vão passando, através das gerações, os seus conhecimentos, inclusive para cientistas. Em vários lugares, são a única a opção de cuidado.
As declarações do ministro Ricardo Barros, somadas aos seus atos à frente do Ministério da Saúde, são claros indicativos de que ele não está apto a ocupar cargo de tamanha relevância, que exige, além de ponderação, um mínimo conhecimento da pasta que ocupa e dos assuntos que lhe são afeitos.
Como farmacêutica e profissional de saúde repudio as declarações do ministro da saúde e me solidarizo com os profissionais de farmácia de todo o país, com os médicos cubanos que estão prestando um serviço humanitário nos mais distantes locais de nosso país e com o que o ministro chamou pejorativamente de “benzedeiras”, pessoas que utilizam seus conhecimentos adquiridos ao longo de gerações para suprir a carência de profissionais de saúde nos lugares mais ermos.
Alice Portugal
Deputada Federal